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Até mesmo o referencial escolhido já foi um sério problema na história humana  

Entre os século XVI e XVII o italiano Galileo Galilei já tecia importantes considerações sobre o movimento. Ele percebeu que ao considerarmos dois corpos que se aproximam ou se afastam com velocidades constantes,  é impossível distinguir qual está realmente em movimento, pode-se tão somente dizer que um está em movimento em relação ao outro, o que chamamos de "relatividade galileana". Giordano Bruno, contemporâneo a Galileo, também fez considerações semelhantes.

Voltemos aos 2 corpos considerados por Galileo, podemos escolher um referencial no qual um dos corpos fique na origem do sistema (não necessariamente) enquanto um observador, em repouso nesse referencial, vê um corpo em repouso (na origem) e outro em movimento. 

Poderíamos escolher qualquer outro referencial com origem em outro ponto, no qual o observador diria que os 2 corpos estão em movimento. 

O referencial arrastado por um corpo de forma que o mesmo sempre está em repouso, é chamado referencial próprio

Tudo que vimos e lemos até aqui nos mostra que a escolha do referencial é fundamental para o estudo dos movimentos, principalmente quando podemos tornar a sua descrição mais simples. Desde de pequenos vemos o Sol nascer pela manhã no leste, e se por no final da tarde no oeste, "cruzando" o céu durante o dia. A explicação dada por nossos pais, depois na escola, é que o nosso planeta gira em torno de seu próprio eixo, assim, quando nossa cidade está voltada para o Sol é dia, quando mergulha na sombra do próprio planeta é noite. 

Para explicarmos os dias e as noites levando em conta o movimento de rotação da Terra, teríamos que adotar um referencial com um origem no Sol, dessa forma seria possível perceber que cada ponto sobre a superfície do planeta descreve um movimento circular em torno do eixo norte-sul da Terra (eixo de rotação do planeta).



Mas nem sempre a explicação foi essa. Os antigos acreditavam que a Terra era imóvel e que todos os corpos celestes giravam em torno dela, o Sol, os planetas, e mesmo as estrelas fixas (modelo geocêntrico). Mas por quê? Porque referencial e observador estão intimamente ligados.

É comum que o observador esteja em repouso em relação ao referencial, embora possamos imaginar como ele veria determinado fenômeno a partir de um outro, isso é feito com frequência na Física. Mas a importância da escolha do referencial não era ainda considerada pelos antigos gregos. Atualmente, compreendemos que a origem do referencial para eles estava no local onde observavam, ou seja, presa à superfície da Terra, embora não tivessem consciência disso. Imagine as consequências desse fato?! Aristóteles (século IV AEC) e Ptolomeu (séculos I e II) construíram os seus modelos para o movimento dos corpos celestes a partir daquela limitação.

Galileo e Giordano Bruno, por compreenderem a relatividade do movimento, perceberam que o modelo proposto por Copérnico (séculos XV e XVI), que colocou o Sol na origem do referencial (modelo heliocêntrico), era mais adequado para tratar da mecânica celeste.

A Igreja daquela época era muito arraigada ao modelo geocêntrico, e por isso a ("Santa") Inquisição condenou Galileo e Bruno por defenderem  e divulgarem ideias que contrariavam os ensinamentos e interesses da Igreja, inclusive o modelo heliocêntrico. Galileo morreu como prisioneiro mesmo depois de renunciar às ideias que acreditava diante do tribunal do "Santo" Ofício, ainda que os historiadores afirmem que só o fez para que não tivesse o mesmo terrível fim de Giordano Bruno, morto na fogueira em fevereiro de 1600, em Roma, aos 52 anos de idade, por não renunciar às suas ideias diante do tribunal eclesiástico. 

Era uma prática comum da Inquisição utilizar da tortura para fazer com que seus opositores confessassem até o que não sabiam, dissessem o que não queriam.



E, matando-os cruelmente acreditava que poderia apagar as ideias contrárias àqueles que se diziam representantes de Deus na Terra.



Por isso é importante defendermos os valores humanos mais elevados, conquistados através de resistências, de lutas, e de incontáveis vidas perdidas por defenderem as suas ideias, a liberdade, a justiça; por acreditarem que os fenômenos da natureza não são sobrenaturais, mas podem ser explicados pelo conhecimento desenvolvido por muitas gerações. Temos que dar lugar à pluralidade das ideias, à razão, à tolerância, ao diálogo. 

No fundamentalismo os dogmas não podem ser contestados. Assistimos as barbaridades praticadas pelo Estado Islâmico no Oriente Médio, e em atentados que praticam em diversas partes do mundo, motivados pelo fundamentalismo religioso. Vemos uma crescente onda reacionária tomando conta do ocidente ligado a grupos ultraconservadores e fundamentalistas. A intolerância e violência que assistimos hoje em nossos bairros e cidades, e por todas as partes do mundo, vêm do egoísmo, da ignorância, do retrocesso defendido por poucos. A injustiça e a crescente desigualdade social no mundo fomentam toda essa loucura da qual testemunhamos.


Apesar da importância do que abordamos, essa é uma atividade de Física sobre Cinemática, então vamos retornar a ela?! Clique no link abaixo para a próxima parte da atividade.

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